quarta-feira, 23 de setembro de 2009

DOS APRENDIZES E ARTIFICES À UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA DO PARANÁ - CEM ANOS DE EDUCAÇÃO

Escrevi este texto para lembrar os Cem Anos da Criação da Escola de Aprendizes e Artifices do Paraná, ocorrida em 1909. Esta escola evoluiu e deixou de lado seu foco inicial, a educação de meninos pobres e abandonados, transformando-se na UTFPR em 2005. Esta é minha contribuição a esta lembrança.

(Prof.Msc. Roberto Bondarik)

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A UTFPR talvez seja no Brasil o exemplo único de uma Universidade que possui em sua história a atuação em todos os graus e níveis de ensino, do fundamental ao doutorado. Sua trajetória essencialmente ligada ao ensino profissionalizante foi uma constante evolução na qualidade de seus préstimos, centrados no ensino público e com qualidade ela chega, como instituição, ao seu primeiro centenário, comemorado em conjunto com o Sistema Federal de Educação Profissional. Sua trajetória inicia-se em 23 de setembro de 1909, quando da criação da Escola de Aprendizes e Artífices em Curitiba. Escolas homônimas e congêneres foram instaladas em cada uma das outras 19 capitais estaduais pelo Brasil.

O objetivo desta escola em Curitiba era ensinar ofícios profissionais a crianças e jovens pobres, órfãos e até abandonados que viviam pelas ruas em situação que hoje chamaríamos de risco, mendigando e submetidos às necessidades da delinqüência. Os ofícios ensinados eram tipicamente urbanos, adequados às necessidades de mercado daquele tempo, voltados ao setor de prestação de serviços e também da incipiente indústria paranaense, ligada a erva-mate, madeira e suas atividades acessórias. Ministravam-se cursos de Alfaiataria, Serralheria, Marcenaria, Selaria, Pintura Ornamental e Sapataria, ofícios ensinados por mestres que eram práticos em suas atividades, detentores de uma formação muito simples, porém empírica. As oficinas procuravam replicar aquelas que existiam no mercado, era um aprendizado na pratica e a produção daí resultante quando vendida, reforçava o caixa e as finanças da Escola. Haviam ainda disciplinas de Instrução Elementar e Desenho Básico. O Governo do Estado auxiliava a incipiente Escola com professoras que em conjunto com o primeiro diretor, Paulo Ildefonso d` Assunção, trabalhavam com a alfabetização dos alunos. A Escola foi se consolidando mesmo com problemas crônicos como a falta de instalações adequadas e permanentes, a falta de preparação formal dos mestres e professores e a desistência de muitos alunos aos quais se oferecia alimentação para incentivar a permanência. Chegou a ser temporariamente fechada por epidemias que atingiam Curitiba, a exemplo da recente gripe H1N1 (Gripe Suína), como em 1917 quando uma epidemia de tifo provocou a morte de muitos alunos e mesmo de professores. Com o tempo a qualidade de seu trabalho foi se assentando em terreno fértil e capaz, como demonstram os seis prêmios recebidos por seus trabalhos apresentados na Exposição Internacional de Turim na Itália no ano de 1911.

Em 1937 passou a denominar-se Liceu Industrial de Curitiba, materializando a preocupação governamental do Estado Novo em proceder à mudança do perfil econômico do Brasil. Em 1942 o nome é novamente alterado, desta feita para Escola Técnica de Curitiba que passou no ano seguinte a ofertar cursos de Construção de Máquinas e Motores, Edificações, Desenho Técnico e Decoração de Interiores. O nome foi alterado para Escola Técnica Federal do Paraná em 1959. Aos poucos ocorre o estabelecimento do ensino de nível médio. Em 1978 o Governo Federal transforma a Escola Técnica em Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, com a sigla CEFET-PR que o tornaria nacionalmente conhecido. Passam a ser oferecidos cursos superiores, sendo os de Engenharia Industrial Elétrica e Tecnologia da Construção Civil, os pioneiros. Abriu-se caminho para a pós-graduação em nível de especialização, mestrado e doutorado.

As décadas de 1970 e 1980 foram marcantes social e economicamente para o Paraná, foi nesse período que a cafeicultura foi totalmente erradicada pela Geada Negra de 1975, provocando um êxodo ímpar em tempos de paz no Ocidente. Contingentes populacionais imensos deixaram a zona rural do Norte do Estado e passaram a buscar novos horizontes em outras regiões ou em grandes cidades. Curitiba passou a crescer de maneira intensa e a sua Cidade Industrial foi implantada gerando novas demandas urbanas, sociais e econômicas. Foi nesse contexto que de crise e transformações profundas que o CEFET-PR se consolidou.

Em 1986 a primeira expansão do CEFET-PR que passa a constituir uma rede pelo Estado. Os primeiros projetos de novas unidades em Cornélio Procópio e Medianeira são aprovados ainda naquele ano. Seguiram-se outras em Pato Branco, Ponta Grossa e Campo Mourão. Há que se destacar nesse processo o engajamento dessas localidades e o compromisso de suas prefeituras, vereadores e comunidade organizada em procurar prover as necessidades iniciais dessas unidades, acreditando na possibilidade de transformação de suas realidades por meio da educação e da qualificação profissional. Estas unidades entraram em funcionamento a partir do início da década de 1990. A transformação em Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a primeira desse gênero a funcionar no Brasil, ocorreu em 07 de Outubro de 2005. Novos Campi foram instalados em Apucarana, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Londrina, e Toledo, perfazendo onze localidades que ofertam cursos voltados ao atendimento de seus diversos arranjos produtivos.

Em seu centenário a UTFPR apresenta os seguintes números: Pós-Graduação, 2 doutorados, 9 mestrados e 60 especializações; Graduação, 28 cursos de Tecnologia, 22 cursos de Engenharia, 7 bacharelados, 4 licenciaturas e 2 bacharelados/licenciaturas; Nível Médio: 17 cursos Técnicos Integrados (três na modalidade de Educação de Jovens e Adultos - Proeja) e 1 curso Técnico Subseqüente. Sua comunidade interna evolve 1.393 professores (602 mestres e 340 doutores), 647 técnicos-administrativos e 16.019 alunos matriculados.

Sabemos que o desenvolvimento econômico depende de inúmeros fatores quer sejam políticos, sociais e culturais. A UTFPR insere-se no contexto do desenvolvimento paranaense como um elemento estrutural que procura por meio do ensino, da pesquisa e da extensão contribuir com a melhoria da qualidade do trabalho, da produção e consequentemente das condições de vida da população. Cabe a Universidade Tecnológica, a exemplo das demais existentes no Estado, auxiliar e potencializar as oportunidades percebidas nesta terra quer seja no presente, quer seja ao longo do caminho de mais um século de trabalho que se arvora em sua história. Uma missão a ser cumprida com o compromisso de evolução e progresso que pode ser identificado nesse seu primeiro centenário de dedicação e trabalho. Parabéns UTFPR e seus servidores e alunos atuais, passados e futuros, parabéns Paraná.


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