sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

OS CAMPOS DO PAIQUERÊ: OS CAMPOS DO SENHOR

OS CAMPOS DO PAIQUERÊ:
 OS CAMPOS DO SENHOR


Prof.Me. Roberto Bondarik
UTFPR
bondarik@utfpr.edu.br



            Os Campos do Paiquerê eram para os indígenas paranaenses a materialização da felicidade e do bem estar. Conforme Josué Corrêa Fernandes em “Das Colinas do Pitangy” (2003), o Paiquerê estaria em toda a parte e em parte alguma, sua existência seria mítica, esotérica e espiritual, uma espécie de Xangri-lá brasileiro.
            O índio desprovido do tipo de visão de mundo econômica que o homem branco possuía, sem ter a sua cobiça material típica dos exploradores portugueses e espanhóis, enxergava o Paiquerê de uma forma muito diversa daquela dos portugueses e espanhóis que esquadrinharam o interior paranaense em busca desse paraíso perdido.
            Para o indígena o Paiquerê era como um imenso campo banhado permanentemente pelo Sol, com fartura de frutas, com caça e pesca em abundância. Imaginavam que esse paraíso terrestre no alto de uma serra ou em um planalto bem elevado, perto do céu, rico em nascentes, com riachos de águas mansas e puras que cortariam essa terra agradável e acolhedora. Campos e bosques completavam o quadro desse lugar maravilhoso.
            Portugueses, espanhóis e brasileiros buscaram exaustivamente os Campos do Paiquerê nos séculos XVII, XVIII e XIX, alguns desses exploradores chegaram a situar esses campos na Serra do Apucarana, esta cadeia de elevações foi outro lugar mitificado e tido por paradisíaco pelos indígenas do Sul do Brasil. Os bandeirantes paulistas acreditavam que a Serra do Apucarana teria em seu topo e encostas imensas jazidas minerais, ouro e pedras preciosas. Esta serra seria bem alta e dominaria com sua imponência toda uma região.
            Diversas expedições procuraram o Paiquerê que acreditava-se afinal deveria existir em algum lugar entre os rios Ivaí, Piquiri e Iguaçu.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

JESUÍTAS, MAPISTAS E EXPLORADORES DO SERTÃO DO TIBAGI: PÁGINAS DA HISTÓRIA DO NORTE DO PARANÁ

------------------------------
Este texto foi enviado também ao jornal Folha de Londrina, segundo a resposta vaga que me deram ele não interessava para publicação. 
Ainda bem que existem blogs e internet, agora posso amplia-lo e acredito que ele possa ser utilizável ainda a alguem que queira saber mais um pouco sobre a história do Norte do Paraná.
Ele trata de John Henry Elliot, Joaquim Francisco Lopes e sua missão de explorar o Norte do Paraná buscando uma rota até o Mato Grosso em meados do século XIX.
------------------------------


JESUÍTAS, MAPISTAS E EXPLORADORES DO SERTÃO DO TIBAGI: PÁGINAS DA HISTÓRIA DO NORTE DO PARANÁ 
Prof.Me. Roberto Bondarik
UTFPR - Cornélio Procópio
bondarik@utfpr.edu.br



                A reportagem sobre as Reduções Jesuíticas Espanholas no Paraná (FOLHA DE LONDRINA de 28 de Novembro de 2010), mostrou-nos uma página pouco lembrada da história paranaense, em especial do Norte do Estado, e que acabou nos levando à outras que encontram-se igualmente esquecidas. Recordei-me de um cartógrafo que em meados do séc. XIX explorou os sertões dos rios Tibagi, Ivai, Paranapanema e Itararé, e também buscou encontrar estas antigas missões espanholas. Tratava-se de John Henry Elliot, que sob o contrato e a mando de João da Silva Machado, conhecido como Barão de Antonina, a partir de 1846, conseguiu estabelecer uma rota terrestre e fluvial entre o litoral paranaense e a Província do Mato Grosso. De suas ações resultaram cidades como Tibagi e Jataizinho, reservas indígenas e os primeiros mapas detalhados do Norte do Paraná.
                John Henry Elliot nasceu em Filadélfia nos Estados Unidos, em 1809, aos dezesseis anos chegou ao Brasil a bordo da Fragata Cyane. Alistou-se na Armada Imperial, lutou na guerra de independência do Uruguai tendo ai sido aprisionado por dois anos. De retorno ao nosso país conheceu o Barão de Antonina, fazendeiro e tropeiro, engajado na emancipação do Paraná. Como empresário e político o Barão desejava estabelecer uma rota terrestre que ligasse o Paraná ao Mato Grosso, encurtando o caminho entre aquela província e o Rio de Janeiro, fugindo à passagem por Buenos Aires e Assunção. Elliot tornou-se o cartógrafo e piloto das expedições financiadas pelo Barão que desejava se assenhorear das terras ao longo da rota a ser traçada.
                Em 1846 Elliot e o sertanista Joaquim Francisco Lopes, o “Sertanejo”, parceiro e chefe do agrimensor norte-americano nas viagens , fizeram um reconhecimento do curso do rio Tibagi e exploraram seu sertão. Esta expedição foi bem documentada e relatada pelo norte-americano ao seu contratante, desta forma pode-se saber o que eles encontraram nesta região habitada àquela época por índios nômades e outrora pontilhada por reduções espanholas. Os exploradores buscavam um ponto da Serra do Apucarana para de seu topo observar a região. Esta serra já há muito fazia-se presente no imaginário brasileiro, os nativos a imaginavam como um local paradisíaco e terra de riquezas imaginárias para os bandeirantes paulistas. Hoje ela possui diversos nomes: Esperança, Cadeado, Santa Maria, etc. Encontrado o mirante almejado Elliot e Lopes puderam vislumbrar os sertões do Tibagi, Ivai e Paranapanema, com as suas matas de então, alguns campos e os cursos d`água, puderam escolher quais rotas deveriam seguir. A descrição que o cartógrafo faz da paisagem avistada, ainda hoje, emociona por sua beleza poética. Este momento foi eternizado e pode ser comprovado pela inscrição em uma pedra feita pelos dois exploradores, com as suas iniciais e o ano do feito: “JFL - JHE – 1846. Este marco da exploração pioneira do Norte do Paraná e do Sertão do Tibagi ainda se encontra no seu local original, o topo da elevação hoje conhecida por Pedra Branca, próximo a Ortigueira-Pr, nas nascentes do Ribeirão Apucaraninha. Esta pedra que ainda guarda a sua inscrição foi recentemente mostrada por uma equipe da Rede Paranaense de Comunicação, programa "Meu Paraná", era uma reportagem conduzida pela jornalista Francisca Aldunate da TV Coroados de Londrina. A Pedra Branca com o seu acesso encontra-se bem ao lado da Rodovia do Café onde esta instalada uma repetidora de telefonia.
                Ainda naquele ano de 1846 e em nova missão Elliot explorou a nascente e mapeou o curso do rio Congonhas, batizando-o com esse nome em virtude da grande quantidade de erva-mate que existia em suas margens. Estes mapas de John Henry, depositados hoje na Mapoteca do Itamaraty, podem ser os primeiros sobre o Norte do Paraná e o Sertão do Tibagi, um feito que poderia torná-lo de certa forma o “redescobridor” desta região no séc. XIX, depois dos Jesuítas, bandeirantes e é lógico dos indígenas que ai viveram sendo os  seus primeiros habitantes há milênios. Sua busca era pelo ponto onde o Tibagi tornava-se navegável e ai fundar uma colônia militar que viria a ser Jataizinho. Inicialmente ele pensou em instalar esse núcleo na foz do rio Congonhas, afim de proteger as embarcações e as construções das intensas e repentinas enchentes que faziam subir muito o leito do Tibagi invadindo suas margens. Posteriormente ele planejou o traçado urbano e ajudou a fundar a própria cidade de Tibagi.
                Em outras expedições Elliot esteve nas ruínas de Vila Rica do Espírito Santo, importante centro urbano espanhol que existiu próximo a Fênix, às margens do Ivai. Ele também identificou diversos vestígios dos jesuítas ao longo daquele rio, como os restos de mineração e lavras, ruínas e em especial as muitas árvores frutíferas: laranjeiras, limoeiros e marmeleiros entre outras, todos plantados em linha. Na ocasião em que trouxe índios para trabalharem como canoeiros na "Colônia Militar do Jatahy" (Jataizinho), Elliot encontrou a Redução de Nossa de Loreto e descreveu as suas condições . Exaustivamente buscou encontrar também a redução de Santo Inácio, porém não conseguiu realizar seu intento. Elliot imaginava que os sítios dessas reduções seriam bons pontos para a instalação de das colônias que deveriam dar apoio e segurança a nova rota para o Mato Grosso. Consta, conforme seu relato que ainda nessa expedição ele teria encontrado também sinais de moradores de um Quilombo que, dizia-se à época, existia no Pontal do Paranapanema.
                John Henry Elliot pintou paisagens e seria dele a primeira representação pictórica de Curitiba, escreveu um romance indianista “Aricó e Caocochée”, em 1844, ambientado na conquista dos Campos de Guarapuava, antes mesmo que José de Alencar lançasse “O Guarani”. O Cartógrafo morreu pobre em 1884 e esta sepultado em São Gerônimo da Serra, bem longe de sua terra natal e quase esquecido em uma história que ele ajudou a escrever no Paraná. Uma vida cujas ações merecem ser resgatadas e que aparentemente guardam semelhanças com a de alguns daqueles conterrâneos de Elliot que buscavam as nascentes do Mississipi, as Sete Cidades de Cibola e a passagem para o Oceano Pacífico. João Henrique Elliot, como gostava de ser chamado, foi um homem que vislumbrou a Serra do Mar a partir do Litoral, desejando enxergar além dela, partiu nesta aventura e descobriu o Norte do Paraná.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

John Henry Elliot e Joaquim Francisco Lopes: O Sertão do Tibagi e o Caminho Terrestre para o Mato Grosso no Sec. XIX

Aqui em breve um artigo sobre as explorações empreendidas por John Henry Elliot e Joaquim Francisco Lopes no Norte do Paraná, em busca da cidade espanhola de Vila Rica do Espirito Santo e das Reduções Jesuíticas na Provincia del Guayrá (Paraná Espanhol). A fundação da Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho) e o estabelecimento do caminho do Paraná ao Mato Grosso - descobrindo o Norte do Paraná.