quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Enchentes do Tibagi: um problema mais do que secular

Em 19 de setembro de 2014 o jornal "Folha de Londrina" publicou um artigo meu em que discutir a apresentei alguns dados históricos a respeito das enchentes ocorridas no Rio Tibagi.
Pelo menos desde de 1846 elas são registradas e tiveram de ser entendidas afim de que ocorresse a colonização da região.
Segue o texto e a imagem com a cópia original da publicação.
---------------------------------------------------

Enchentes do Tibagi: um problema mais do que secular

Prof. Me. Roberto Bondarik
Docente e Pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Cornélio Procópio

            A reportagem especial da FOLHA neste domingo (14/09/2014) a respeito dos problemas que o Paraná tem sofrido com intempéries fez com que a minha atenção fosse chamada para os problemas relacionados às enchentes em Jataizinho. Nos últimos anos temos presenciado cheias com elevado volume e poder destrutivo. Apesar da reclamação e do clamor por obras de infraestrutura afim de dar vazão às águas da chuva, canalização de rios, a também alegada culpa atribuída a Usina Hidroelétrica de Mauá, no Rio Tibagi, algo que merece melhores e profundos estudos, a questão principal é que a enchentes em Jataizinho são mais antigas que se possa ter ideia. Uma história que precisa ser conhecida afim de melhor se planejar o presente.
            O problema das enchentes do Rio Tibagi já foi detectado quando do início da exploração e mapeamento do então Sertão do Tibagi na década de 1840 afim de, a mando do Barão de Antonina, estabelecer-se um caminho terrestre e fluvial que ligasse o litoral do Paraná ao Mato Grosso. O sertanista Joaquim Francisco Lopes e o mapista norte-americano John Henry Elliot, responsáveis pelo registro de posse dos campos de São Gerônimo, Santa Barbara e da posse da Fazenda Congonhas para o referido Barão. Em seu trabalho exploraram e descreveram toda a região. As margens do Rio Tibagi, abaixo do ribeirão Jatahy prestava-se à navegação e decidiu-se logo pelo estabelecimento de um porto e de um povoamento que deveria ser uma colônia militar.
Optou-se pela foz do Jatahy para o estabelecimento desse entreposto, porém John Henry Elliot também já havia se inclinado a escolher a foz do Rio Congonhas, bem mais abaixo no curso do Tibagi e próxima do Rio Paranapanema. Estudando a foz do Congonhas em 10 de novembro de 1847 Elliot e Lopes escolheram aquele local como o mais indicado para se estabelecer o porto de embarque para as mercadorias que desde Antonina aqui no Paraná, deveriam seguir até Cuiabá no Mato Grosso. Achavam eles que aquele lugar era o mais seguro em virtude da proteção que daria às canoas de transporte que poderiam ser arrebatadas pelas enchentes do Tibagi. Este relato foi publicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1848 (p.174). Ou seja as cheias do Tibagi assustam as pessoas desde o início das explorações da região. Por motivos outros a Colônia Militar do Jatahy, hoje Jataizinho, foi instalada mais acima.
O conhecimento das cheias do Tibagi possibilitou que tanto o casario da Colônia Militar como o do Aldeamento de São Pedro de Alcântara, alguns quilômetros rio abaixo, fossem erigidos em locais elevados e protegidos, colocando as suas populações em segurança. O excesso de chuvas àquele tempo, a exemplo de hoje, também causou problemas por diversas vezes aos poucos moradores do Jatahy nos primeiros tempos. Em 1863 metade da produção de milho foi perdida em virtude das chuvas e a subsistência dos moradores ficou prejudicada. A população local em virtude da grande distância com outros centros sempre foi pequena.
O crescimento da população de Jataizinho após a chegada da ferrovia na década de 1930 e a ocupação urbana da margem do Tibagi e dos seus afluentes fazem com que hoje a cada chuva mais forte o rio retome sua antiga área de escape, mesmo sendo ela hoje escriturada e dotada de rede de captação das águas das chuvas. Nos parece óbvio que algo deve ser feito para solucionar o problema das enchentes e das pessoas por elas atingidas, mas há que se lembrar da história e natureza do Rio Tibagi.



Nenhum comentário: